Os bastidores no União Brasil, que suspende Celso Sabino por 60 dias

Ilustração ANF

Hoje, dia 8/10, quarta-feira, foi a reunião para a decisão da permanência do deputado federal Celso Sabino no UB. O ministro do Turismo foi suspenso do União Brasil por 60 dias. Ele enfrenta um processo por infidelidade partidária porque se recusa a deixar o governo Lula.

O parecer do deputado Fábio Schiochet (União-SC) sugeriu a suspensão por dois meses. Sabino também foi afastado da presidência do diretório do Pará. Outra providência é a intervenção imediata nos diretórios municipais do estado. Serão indicados novos nomes em até 20 dias para os cargos.

A expulsão de Sabino será discutida pelos próximos 60 dias no Conselho de Ética interno. Durante este período, a defesa poderá apresentar argumentos para a manutenção do cargo e trabalhar para reunir votos a favor do ministro. Segundo as últimas informações, a tendência é de expulsão ao final desse prazo.

Relator disse que expulsão era medida drástica e que poderia causar prejuízo ao partido. "A adoção de uma sanção tão drástica poderia gerar inclusive prejuízo político irreversível aos interesses estratégicos do União Brasil, razão pela qual não a reputo adequada por ora", afirmou, em seu voto. Ressaltou que o estatuto "autoriza medidas de urgência, mas exige que sejam adequadas e reversíveis", "voltadas a preservar a disciplina interna e não a antecipar o julgamento definitivo".

Suspenso, ele perde o cargo de presidente estadual, que permitia nomear aliados e cuidar do fundo partidário. Passa a não poder votar nas decisões nacionais, estaduais e municipais do partido e não participa da escolha dos nomes de candidatos para o ano que vem.

A Executiva Nacional do União tem 22 dirigentes com direito a voto. Sabino é um deles. Para haver expulsão, é preciso apoio de 3/5 dos integrantes. Isto significa 13 membros endossando o afastamento.

Mesmo com a possibilidade de expulsão, o ministro reiterou que está com o governo. "Fico ao lado do presidente Lula por entender que é a melhor opção para o país", disse. Ele declarou fidelidade a Lula e que deseja continuar no partido. Falou que é um erro não aproveitar os bons indicadores econômicos do governo.

As afirmações irritaram o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, pré-candidato do União à Presidência. Ele falou que Sabino está em posição indefensável. "É algo de uma imoralidade ímpar, como se pode estar dentro de um partido, ser soldado de Lula e soldado do União Brasil."

Sabino contra-atacou. Disse que responderia a Caiado "quando ele atingisse 1,5% de intenções de votos" nas pesquisas para presidente. O governador disse que ele era um "traidor" e que lhe "falta desconfiômetro".

A divergência começou em 19 de setembro, data em que o União determinou desembarque do governo. O partido está em formação de federação com o Progressistas para ter a maior bancada do Congresso. A decisão foi tomada em conjunto entre as duas siglas.

A intenção de ser a maior força de oposição não combinava com ter cargos em ministério. Sabino chegou a indicar que acataria a ordem. Ele se reuniu com Lula e sinalizou que entregaria o cargo de ministro do Turismo em 26 de setembro. Mas o tempo passou e ele continua na Esplanada.

O ministro negociou esta solução. Ele concordou com o afastamento e que seja aberto o processo de expulsão, mas pediu que o trâmite ocorra num prazo de 60 dias.

A situação permitiria que Sabino estivesse na COP30 ao lado de Lula. Desta forma, o ministro ganharia o capital político de estar à frente de um evento de alcance global que ajudou a organizar e foi realizado em seu estado.

Sabino deseja tentar o Senado pelo Pará. Para convencer a Executiva Nacional do União, o ministro concordou em fazer concessões.

Ele aceitou intervenção em diretórios municipais no Pará. A medida foi defendida por Caiado como uma forma de retirar de cargos de direção pessoas alinhadas a Lula e colocar dirigentes da oposição no lugar.

O ministro apostava no apoio de deputados para fazer sua proposta prevalecer. O cargo no Turismo permite o empenho de verbas e ajuda a fazer aliados no Congresso e na política interna do União.

Sabino prometeu sair do governo, mas se aproximou de Lula. Ambos viajaram juntos para Belém e houve declarações de apreço ao presidente. O ministro tem interesses políticos que podem ser viabilizados ficando no cargo.

Com base eleitoral no Pará, Sabino planeja concorrer ao Senado ano que vem. Ser o ministro de Turismo de Lula e aparecer no evento sediado em Belém dá uma exposição positiva.

Diante da hesitação, o União abriu processo de expulsão em 29 de setembro. A permanência desgasta os caciques do partido e desafia seu presidente, Antônio Rueda.

Ele está em guerra com o Planalto porque foi incluído numa investigação sobre o PCC. Um piloto que transportava integrantes da facção declarou à imprensa que o avião usado nos voos pertencia ao presidente do União.

O Progressistas também lida com um integrante que não deseja se afastar de Lula. O partido afastou o ministro dos Esportes, André Fufuca, do cargo de vice-presidente nacional por ele continuar no governo federal. PP e União Brasil formam uma federação que tem dirigentes tentando levar os integrantes para oposição e que enfrentam resistência de parte dos filiados.

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Jece Cardoso

Colunista

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