“Limpeza” étnica
Todo tema polêmico gera “polêmica”, mas é sempre bom enfrentá-lo, pois, como disse, em um dos episódios, sabiamente, a personagem Chiquinha, da série “Chaves”, Da discussão, nasce a luz!
Com a aproximação da COP30, segundo noticiário e relatos de moradores de determinadas áreas da cidade de Belém, parece estar havendo uma “limpeza” étnica para que o público-alvo do evento não seja “atropelado” por nossos “jacarés”, no dizer da letra crítica do Mosaico de Ravena.
Em certa ocasião, o próprio Presidente Lula declarou, para que todos ouvissem, que não queria que se escondesse de Belém a sua realidade social, especialmente quando se tratasse de sua população mais vulnerável socialmente, como as pessoas em condição de “moradores de rua”, especialmente aqueles mais visíveis, que perambulam pelo centro da cidade, espaço este hoje totalmente “remodelado” para receber convidados ilustres e turistas.
Há aqueles que defendem a retirada, até mesmo compulsória, dessas pessoas, com alegações, especialmente direcionadas ao fator segurança, alegando pequenos roubos, importunação e assédio aos transeuntes, e que sua simples retirada traria mais sossego às pessoas, especialmente em áreas nobres da cidade.
Ora, é certo que, alguém de fora, ao ver moradores de rua como uma realidade da cidade, a olhariam como “suja” e sem projetos para esse segmento social, virando o rosto e criticando, como costumam fazer quando se trata de regiões afastadas do grande Centro-Sul do país.
Mas, “limpar” a cidade, só para parecer “limpa e higienizada” apenas para gente de fora, apenas para uns poucos dias em que Belém será o palco do mundo, parece coisa de “Apartheid”, de segregação, de jogar para baixo do tapete uma realidade que está aí e que não desaparecerá como por milagre, só porque se usou do aparato de poder para “mascará-la” por alguns dias.
Mostrar pessoas vivendo de forma desumana, insalubre e penosa, não parece ser bom para a administração de uma cidade que recebe uma das maiores conferências do planeta e que quer mostrá-la “limpa”, sem “nódoas” sociais.
Mas a “nódoa” está lá, mesmo que tentem escondê-la por alguns poucos dias. É como se fôssemos àquelas famosas cidades da África ou da Índia, que aparecem nos filmes e noticiários, e esperássemos ver tudo “limpinho”, sem mendigos, sem moradores de rua, sem trânsito caótico, o certo é que essa viagem só seria realizável em um sonho!
E se o poder público, já de há muito, tratasse esses segmentos de outra forma, com abrigos decentes, com projetos de reinserção social, um trato mais próximo e humanitário, hoje não precisaria esconder “nossos jacarés” para que não assustassem o povo que vem para a COP30.
