Entrevista com o autor do hino de Marituba, Luiz Dilton

Trouxemos para um bate-papo, o autor do hino de Marituba, município da região metropolitana da grande Belém. Luiz Dilton Pereira da Silva, além de ser o compositor do hino maritubense, tem importante participação em movimentos culturais na ‘Terra dos Umaris’. Natural de Altamira, município localizado à margem do rio Xingu, na Mesorregião Sudoeste do Pará, mas veio para Marituba quando tinha 2 anos de idade, e aos 69, Luiz Dilton como é conhecido em solo maritubense tem muito a contar sobre períodos importantes da história mariaura. Divorciado, pai de 5 filhos, avô de 6 netos, hoje já está aposentado de algumas de suas atividades profissionais, mas da cultura, literatura não se aposenta. É poeta, professor e compositor. Dilton é contemporâneo do saudoso Paulo Falcão (o Poli), na chamada época áurea da cultura maritubense, quando vila. Poli além de na época ter sido prefeito de Ananindeua, foi o grande dramaturgo da ‘Ananintuba’, como dizia o saudoso Lucinerges Couto, afinal o ex-prefeito, tinha uma vida bem ativa na cultura de Ananindeua e Marituba.
Questionado sobre o que tem a dizer sobre a atual cultura maritubense, Luiz Dilton respondeu: “Fico triste em dizer, mas hoje Marituba não tem cultura!”.
Perguntamos se já havia participado de grupos, atividades culturais local, disse-nos: “Sim! No inicio do ano 2000, o nosso dramaturgo, Paulo Falcão (Poly) – in memory, criou um grupo de atores amadores de Marituba. Eu, Lázaro Falcão, Geraldo Nilo (in memory), Diquinho (in memory), Elias Borges, Marília, Roberto Caxias, Carlinho Bucho Torto, Zé Prego (in memory), Vadico (in memory), Oscarina (in memory), Maria e muitos outros. Com esse grupo cultural surgiu os Pássaros, a Arraia, o Sabiá e o Macaco. Naquela época tínhamos cultura!”.
E o indagamos. Em sua opinião, qual o melhor momento cultural de Marituba e por qual motivo? Respondeu: “Foi na época da Estrada de Ferro de Bragança – E.F.B. – quando Marituba era apenas uma vila. Foi o melhor momento cultural que já aconteceu para o nosso povo. Tínhamos cinema, Bois-Bumbás (“Pingo de Outor”, “Treme-Terra” e outros). Tínhamos vários Pássaros: o “Jacu”, a “Preguiça”, o “Beija-flor”, o “Siri”, etc. O folclore existia e o povo se divertia. Hoje, a tradição se foi!”.
Questionado sobre a composição do hino de Marituba e sobre a palavra mariuara, disse-nos: “Tenho guardado em sete chaves o esboço do hino de Marituba. Tudo começou com a publicação da LEI MUNICIPAL Nº 228/2010, na gestão do prefeito Bertoldo Couto, que instituiu o Concurso Público para a escolha do hino da cidade. Foi quando resolvi me inscrever para o certame. A composição do hino foi obedecida rigorosamente pelo Estatuto. Daí comecei a pesquisa da elaboração de um hino. Li e ouvi o hino nacional brasileiro, da independência, da bandeira e vários hinos de clubes brasileiros, na composição de Lamartine Babo. Foi assim que tudo começou. A primeira estrofe do hino foi dedicada aos cassacos (operários da E.F.B), e eu procurava uma palavra que se encaixasse na melodia. Eu já tinha UARA, mas faltava um complemento. Aí surgiu MARI, de Marituba, sugerido pelo meu amigo Lázaro Falcão. Aí veio a junção de MARI+UARA, que originou MARIUARA. Assim foi criado um neologismo aglutinador de MARI+PARÁ (um fenômeno linguístico que consiste na criação de uma palavra ou expressão nova)!”.
“Brava gente, mariuara, temos orgulho de ti; construíste a estrada, com a força do umari...”.
Luiz Dilton nos fala sobre o seu gosto pela literatura e ressalta: “Quando ainda adolescente comprei uma coleção de Machado de Assis, meu escritor preferido. Com a convivência com amigos, aguçou ainda mais o gosto pela literatura. Daí em diante comecei a ler mais e escrever para jornais. Com a iniciativa de amigos levamos o LIVRO VAI À PRAÇA, com distribuição de vários livros para os presentes. Depois comecei a frequentar a Escola Emília Clara de Lima, através de convite para participar dos lançamentos das edições do livro, “Meus Primeiros Poemas”, dos alunos daquela escola. No sábado, 30 de novembro, no programa da rádio Umari FM, através do programa “A literatura nas ondas do rádio”, comandado pelo escritor presidente da Academia de Letras Maritubense, Lázaro Falcão e do acadêmico professor Orlando Ataíde, fui premiado por responder perguntas sobre Machado de Assis. Assim continuarei dentro da literatura!”.
Perguntamos: você foi da época do saudoso prefeito de Ananindeua, Paulo Falcão, conviveu com ele? Fale-nos sobre essa relação de amizade e apego à cultura local, ele que foi um grande entusiasta desse movimento em Ananindeua e Marituba.
“Sim convivi! E falar de Paulo Falcão é um privilégio, uma honra. Comecei a conviver com ele na década de 70 quando foi prefeito de Ananindeua pela primeira vez. Uma relação de amizade sincera e um grande apreço. A cultura, a dramaturgia jorravam em suas veias, e uma gota desse líquido benzido por Deus, pingou em mim, dando-me mais entusiasmo para ler e escrever. Paulo Falcão usou de sua capacidade cultural para criar diversas peças teatrais, tais como: “Tentação do Satanás”, “Os dez mandamentos”, “De um covarde nasce um herói”, entre outros. No folclore começou a viver o belo dos pássaros quando ainda jovem, viveu o papel de caçador, no Pássaro “Rouxinol”, em Belém. Depois, criou o grupo junino o “Beija-flor”. A partir do ano 2000, escreveu e ensaiou o “Bem-te-vi”, a “Arraia” (fiz parte), e criou o “Boi Transformoso” (também participei), está vivo até hoje em nossa memória pelo que fez à nossa cultura. Assim era Paulo Falcão!”.
Em suas considerações finais, Luiz Dilton disse: “Agradeço a oportunidade do jornal “A Nova Folha”, que me presenteou para poder falar de grandes amigos que colaboraram e colaboram com a cultura mariuara. Peço aos novos governantes que não abandonem a nossa cultura. Incentivem os jovens, principalmente aqueles que estão dentro de sala de aula. A cultura não pode parar!”.