O cambotinha

Ele não perdia uma! Era todo sábado! Colocava a bermuda, os chinelos, pegava a bola, a society, e lá ia todo feliz para a sagrada “pelada” dos fins de semana. A mulher reclamava, mas não tinha jeito.
Antes de sair, o Rex ensaiava pular no banco do carro, mas não dava, porque da última vez que o levou, ele queria porque queria correr atrás da bola, atrapalhando o jogo, o juiz reclamando.
Ele e o Rex eram velhos amigos. Adorava o cachorro, seu companheiro de todas as horas.
E foi nesse bendito sábado que aconteceu. Depois de uma jogada mais intensa, levou um “tranco” feio de um zagueiro, caiu e teve uma leve fratura na perna direita, sendo socorrido e levado para a emergência de um hospital. Resultado: gesso!
Afastou-se do trabalho.
Depois de uns dias, melhorou sua condição e já podia dar uns passou pela rua.
E, nessas ocasiões, algo que chamou a atenção dos vizinhos acontecia. O rapaz ia andando, mancando da perna ainda engessada, e o fiel Rex atrás, também mancando, numa cadência de passista de escola de samba, movimentos simétricos e articulados com o seu dono, como se estivessem sincronizados, ouvindo uma suave música invisível!
- Mas que maldade! Ele quebrou a perna e o cachorro também! Mas custava levar o pobre animal no veterinário para uma consulta? Isso pode até dar processo!
- Mas é mesmo uma maldade! Todo dia é isso, o pobre animal mancando atrás do dono e ele não faz nada!
Até que em uma tarde, depois de mais uma caminhada, o rapaz, cansado, sentou-se na cadeira de um conhecido, e todos, então, boquiabertos de espanto, viram o Rex sair andando, naturalmente, a brincar com outro cachorro, totalmente “curado”, sem mancar nem nada!
- Ah! Então é isso, seu cão esperto! – falou alguém que já vira a inusitada cena algumas vezes –, ele só está imitando o dono, em sinal de respeito, de amizade e de companheirismo.
Moral da história: “Confirmado: ele é, realmente, o ‘melhor amigo do homem’!”
Até mesmo para provocar revolta, espanto, humor e admiração nos desavisados.